A Netflix tem sido a minha grande companhia nestes dias em que pouco ou nada consigo fazer (já escolhi todas as revistas e jornais) e tenho conseguido ver coisas que me andavam a escapar. Além de pôr em dia o House of Cards, foi-me recomendada uma série que se chama Rotten, relacionada com questões alimentares: desde a produção até aos perigos com que nos deparamos todos os dias, em todo o lado.
De todos os 6 episódios, 2 impressionaram-me particularmente. O primeiro está relacionado com a produção de mel, a procura deste néctar maravilhoso tornou-se gigante, muito devido às alterações na alimentação e aos valores que a vida de cada um readquiriu. No caso concreto do mercado americano, a oferta está muito aquém da procura. Os apicultores queixam-se que as abelhas não sobrevivem às alterações climáticas e que, depois, não há como as alimentar. A solução é importar mas os outros mercados também não têm resposta. Pior, não passam nos rigorosos testes de controlos alimentar e bacteriológico impostos nas alfândegas americanas.
Qual a real ameaça alimentar neste caso? Devido à pouca oferta o mel está a ser falsificado e em vez de néctar dourado está a ser vendido xarope de arroz, cujas características conseguem dissimular os rigorosos controlos sanitários. A principal origem é a China, que vende o produto a outros países e consegue colocar toneladas no mercado, sob outra bandeira.
O segundo episódio que me impressionou tem que ver com alergias alimentares. As 8 alergias mais comuns, no mundo são provocadas por 8 alimentos: amendoim, frutos secos, marisco, leite, soja, ovo, trigo, cacau. Todas são potenciais desencadeadoras de anafilaxia, a mais grave reacção do corpo humano a um dos alimentos a que é alérgico que pode provocar morte.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, entre 1 a 2% da população adulta dos países industrializados apresenta algum tipo de alergia alimentar e 8 % das crianças também. Segundo este documentário, em 20 anos, no Reino Unido, triplicou o número de crianças alérgicas a qualquer alimento. Durante muito tempo prevaleceu o mito de que apenas as crianças eram afectadas por intolerâncias alimentares. Hoje, a comunidade cientifica sabe que não é assim, muito devido ao consumo excessivo de antibióticos que afecta a flora intestinal e destrói uma ‘comunidade de bactérias boas’ que temos no estômago.
Uma refeição fora de casa pode ser uma aventura ou uma tragédia e, pelo menos para mim, tornou-se um motivo de enorme desconfiança e muita ponderação. Se eu fosse empresária e tivesse de escolher numa área de negócio, eu apostava num restaurante específico para estas pessoas, alérgicas e intolerantes a tantos alimentos. Já existem noutros países e, mais do que comida, é uma questão de confiança.
Dinheiro nenhum no mundo alguma vez vai conseguir pagar isso.
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